sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Maior Perda



J. C. Ryle

Ryle serviu por quase 40 anos como ministro do Evangelho. Foi um escritor prolífico, um pregador vigoroso e um pastor fiel. Muitas de suas obras têm sido reeditadas e servido como fonte de instrução e consolo para o povo de Deus. A Editora Fiel publicou algumas de suas obras em português: o clássico “Santidade”; “Uma palavra aos moços”; “Fé genuína” e os quatro volumes de meditações nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João.

“Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro
e perder a sua alma?” (Marcos 8.36)

Estas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo deveriam ressoar em nossos ouvidos como o retinir de uma trombeta. Elas se referem aos nossos melhores e mais elevados interesses. Dizem respeito à nossa alma.

Que pergunta solene está contida nestas palavras da Escritura! Que imensa soma de beneficio e de perda elas propõem ao nosso cálculo! Onde está aquele que é capaz de avaliá-la? Onde está o matemático que não ficaria perplexo com essa soma? “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”

Desejo oferecer algumas observações para ressaltar e ilustrar a pergunta que o Senhor Jesus nos faz nesta passagem. Rogo a atenção séria de todos os que lêem este artigo... Oh! que todos os que assim o fizerem sintam mais profundamente do que nunca o valor de uma alma imortal. Descobrir o valor de nossa alma é o primeiro passo em direção ao céu.

Minha primeira observação é esta: todos nós temos uma alma imortal. Não me envergonho de começar... com estas palavras. Ouso dizer que elas parecem estranhas e tolas para alguns leitores. Ouso dizer que alguns exclamarão: “Quem não sabe de coisas como essas? Quem jamais pensou em duvidar que temos alma?” Mas não posso esquecer que o mundo está agora fixando sua atenção nas coisas materiais em uma proporção sobremodo extravagante. Vivemos numa era de progresso... Vivemos numa época em que as multidões estão cada vez mais absorvidas nas coisas terrenas... Vivemos num tempo em que há um falso esplendor nas coisas temporais e grande obscuridade nas coisas eternas... Em uma época como esta, como ministros de Cristo, temos o sagrado dever de retornar aos princípios elementares. Ai de nós, se não incutirmos nos homens esta pergunta de nosso Senhor a respeito da alma! Ai de nós, se não clamarmos: “O mundo não é tudo. A vida que agora temos na carne não é a única vida. Há uma vida por vir. Temos uma alma”.

Fixemos em nossa mente o grande fato de que todos levamos em nosso íntimo algo que não morrerá. O nosso corpo, que demanda tanto de nosso tempo e pensamentos, para aquecê-lo, vesti-lo, alimentá-lo e torná-lo satisfeito – este corpo não é todo o homem. É apenas a habitação temporária de um morador nobre, e esse morador é a alma imortal!

A morte que todos temos de sofrer um dia não é o fim do homem. Tudo não se acaba quando uma pessoa dá o último suspiro e o médico lhe faz a última visita; quando o caixão é fechado, e fazem-se os preparativos do funeral; quando se pronuncia, sobre o caixão, a frase “e o pó volte ao pó”; quando nosso lugar no mundo é ocupado, e a nossa ausência da sociedade não é mais percebida. Não, tudo não acaba naquele momento! O espírito do homem continua vivendo. Todos possuem uma alma imortal...

E se não podemos ver nossa alma? Não existem milhões de coisas que nos são invisíveis a olho nu? Que não comprovou isso por olhar através do telescópio ou do microscópio? Se não podemos ver nossa alma, podemos senti-la.

Quando estamos sozinhos no leito de enfermidade e isolados do mundo; quando consideramos o leito de morte de um amigo; quando vemos aqueles que amamos serem entregues ao sepulcro – em ocasiões como essas, quem não sabe os sentimentos que nos vêm à mente? Quem não sabe que em horas como essas surge, em nosso coração, algo dizendo-nos que há uma vida por vir e que todos, desde o mais vil ao mais nobre, têm alma imortal?...

Posso imaginar que, às vezes, vocês são tentados a pensar que este mundo é tudo e que o corpo é tudo que devemos cuidar. Resistam a essa tentação e descartem-na. Digam para si mesmos, cada manhã, quando levantam, e cada noite, quando se deitam para dormir: “A aparência deste mundo passa. A vida que tenho agora não é tudo. Existe algo mais importante do que negócios, dinheiro, prazer e comércio. Há uma vida por vir. Todos nós temos alma imortal”.

Esta é a minha segunda observação: uma pessoa pode perder a sua alma. Essa é a parte desagradável de meu assunto. Contudo, é a parte que não ouso, nem posso, ignorar. Não tenho simpatia por aqueles que profetizam apenas paz e ocultam dos homens o terrível fato de que eles podem perder sua alma. Sou um daqueles antigos ministros que crêem em toda Bíblia e em tudo que ela diz. Não posso achar na Escritura qualquer fundamento para a teologia eloqüente que agrada muitos em nossos dias, de acordo com a qual todos chegarão ao céu, no final.

Creio que existem verdadeiramente tanto o Diabo como o inferno. Creio também que a caridade não pode impedir os homens de perderem sua alma... Se você visse um cego caminhando em direção a um precipício, você não gritaria: “Pare”? Lancemos fora as idéias erradas a respeito de caridade... A maior caridade é apresentar a verdade às pessoas. A verdadeira caridade consiste em adverti-las com bastante clareza, quando estão em perigo. Caridade é incutir nelas a verdade de que podem perder a sua alma para sempre no inferno...

Fracos como somos em tudo que é bom, temos um grande poder de causar dano a nós mesmos. Você não pode salvar a sua própria alma... lembre-se disso! Não pode estabelecer sua paz com Deus. Não pode remover um único pecado. Não pode apagar nenhuma das graves ofensas registradas no livro de Deus contra você. Não pode mudar seu próprio coração. Mas há uma coisa que você pode fazer: pode perder sua própria alma...

Quem é responsável pela perda de nossa alma? Ninguém, exceto nós mesmos. Nosso sangue cairá sobre nossa própria cabeça. A culpa estará em nós mesmos. Não teremos ao que apelar no Último Dia, quando estivermos diante do grande Trono Branco e os livros forem abertos. Quando o Rei vier para ver seus convidados e disser: “Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial?” (Mt 22.12), ficaremos sem resposta. Nada justificará a perda de nossa alma.

Aonde vai a alma quando se perde? Há apenas uma resposta solene para essa pergunta. Há somente um lugar para onde ela pode ir – o inferno. Não existe algo como a aniquilação. A alma perdida vai àquele lugar onde o verme não morre e o fogo jamais se apaga – onde há escuridão e trevas, miséria e desespero para sempre. Ela vai para o inferno – o único lugar que lhe é adequado, visto que ela não está preparada para o céu. “Os perversos serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus” (Sl 9.17).

Vivemos em época de grandes tentações. O Diabo está agindo, bastante ocupado. A noite vai alta. O tempo é curto. Não perca a sua própria alma.

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Traduzido por: Pr. Wellington Ferreira
Copyright© Editora FIEL 2010
Extraído do capítulo “Nossa Alma”, no livro Old Paths, reimpresso por Banner of Truth Trust (http://www.banneroftruth.org/).
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Características Distintivas do Aconselhamento Cristão





Wayne Mack

Há vários anos, um crente da Holanda entrevistou-me a respeito do meu ponto de vista sobre o aconselhamento cristão. Ele estava viajando pelos Estados Unidos, fazendo perguntas a vários crentes que eram conselheiros e professores de aconselhamento a respeito da opinião deles sobre o que constitui o aconselhamento cristão. Disse ao meu entrevistador que todo aconselhamento digno de ser chamado cristão possui quatro características distintivas.


1. Aconselhamento centralizado em Cristo

Primeiramente, o aconselhamento cristão está consciente e abrangentemente centralizado em Cristo. O aconselhamento cristão atribui muito valor ao que Cristo é; ao que Ele fez por nós em sua vida, sua morte, sua ressurreição e seu envio do Espírito Santo; ao que Ele está fazendo por nós agora em sua intercessão, à direita do Pai, e ao que ainda fará por nós, no futuro. No aconselhamento cristão, o Cristo da Bíblia não é um acessório, um acréscimo com o qual podemos viver melhor. Pelo contrário, Ele está no centro, nos arredores e em todos os aspectos do aconselhamento. O aconselhamento centralizado em Cristo envolve o entendimento da natureza e das causas de nossas dificuldades humanas, bem como o entendimento das maneiras em que somos diferentes de Cristo em nossos valores, aspirações, desejos, pensamentos, escolhas, atitudes e reações. Resolver dificuldades relacionadas ao pecado inclui sermos pessoas redimidas e justificadas por Cristo, recebermos o perdão de Deus por meio de Cristo e obtermos dEle o poder que nos capacita a substituir padrões de vida pecaminosos e anticristãos por um modo de viver piedoso e semelhante ao de Cristo.


2. Aconselhamento centralizado na salvação

Um conselheiro cristão é um crente que expressa sua fé, de modo consciente e abrangente, em sua perspectiva a respeito da vida. O aconselhamento verdadeiramente cristão é realizado por indivíduos que experimentaram a obra regeneradora do Espírito Santo, que vieram a Cristo, através do arrependimento e da fé, que O reconheceram como Senhor e Salvador de suas vidas e que desejam viver em obediência a Ele; são pessoas cujo principal objetivo da vida é exaltar a Cristo e glorificar o nome dEle. Os conselheiros verdadeiramente cristãos são pessoas que crêem no fato de que, se Deus não poupou seu próprio Filho (de ir à cruz e de morrer ali), mas O entregou (à cruz e à morte) por nós (em nosso favor e em nosso lugar, como nosso substituto), Ele nos dará graciosamente tudo que necessitamos para uma vida eficiente e produtiva (para nos transformar na própria imagem de seu Filho, na totalidade de nosso ser). O aconselhamento verdadeiramente cristão é realizado por aqueles cujas convicções teológicas influenciam, permeiam e controlam sua vida pessoal, bem como sua teoria e prática de aconselhamento.


3. Aconselhamento centralizado na Igreja

Outra característica distintiva do aconselhamento verdadeiramente cristão é que ele estará centralizado, de modo consciente e abrangente, na Igreja. As Escrituras deixam claro que a igreja local é o instrumento primário pelo qual Deus realiza sua obra no mundo. A igreja local é o instrumento designado por Ele para chamar o perdido a Si mesmo e o ambiente no qual Ele santifica e transforma seu povo na própria semelhança de Cristo. De acordo com as Escrituras, a Igreja é a casa de Deus, a coluna e o baluarte da verdade; é o instrumento que Ele utiliza para ajudar seu povo a despojar-se da velha maneira de viver (hábitos, estilo de vida, maneiras de pensar, sentimentos, escolhas e atitudes características da vida sem Cristo) e vestir-se do novo homem (uma nova maneira de viver com pensamentos, escolhas, sentimentos, atitudes, valores, reações, estilo de vida e hábitos semelhantes ao de Cristo (ver 1 Timóteo 3.15; Efésios 4.1-32).


4. Aconselhamento centralizado na Bíblia

Finalmente, o aconselhamento verdadeiramente cristão está fundamentado, de modo consciente e abrangente, na Bíblia, extraindo dela a sua compreensão a respeito de quem é o homem, da natureza de seus problemas, dos “porquês” destes problemas e de como resolvê-los. Em outras palavras, o conselheiro precisa estar comprometido, de modo consciente e envolvente, com a suficiência das Escrituras para resolver e compreender todas dificuldades não-físicas, relacionadas ao pecado, que afetam o próprio indivíduo e seu relacionamento com os outros. Muitos em nossos dias se declaram conselheiros cristãos, mas não afirmam a suficiência das Escrituras. Em vez disso, eles crêem que precisamos de discernimento proveniente de teorias psicológicas e extra bíblicas para compreendermos e ajudarmos as pessoas, especialmente se elas têm problemas sérios. Para tais conselheiros, a Bíblia possui autoridade apenas designadora (ou seja, como um instrumento que nomeia) e não funcional (atual, genuína e respeitada quanto à pratica) no aconselhamento. Estes conselheiros reconhecem que a Bíblia é a Palavra de Deus e, por isso, digna de respeito, mas, quando se refere a entender e resolver muitos dos problemas autênticos da vida, eles crêem que a Bíblia possui valor limitado. Onde quer e por quem quer que seja realizado esse tipo de aconselhamento, somos convencidos de que, embora o conselheiro seja um crente, seu aconselhamento é sub-cristão, porque não está fundamentado, de modo consciente e abrangente, na Bíblia. Estas quatro características distintivas do aconselhamento não constituem assuntos que podemos deixar de lado. Também não são “uma tempestade num copo d’água”. Pelo contrário, elas são o âmago de qualquer aconselhamento digno do nome “cristão”. Visto que entendemos estas características como o ensino da Palavra de Deus sobre o aconselhamento, elas determinam o modelo de nossos cursos de graduação e pós-graduação em aconselhamento.

http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=161

Aconselhamento pré-nupcial, pornografia e casamento





Winston Smith
Uma entrevista com Winston Smith
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Winston T. Smith é o diretor de aconselhamento na Christian Counseling and Educational Foundation e tem experiência ampla como conselheiro familiar e conjugal. Ele é autor de muitos artigos sobre aconselhamento e do livro Rest (Descanso). Atualmente, está escrevendo um livro sobre casamento.
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Como age a sabedoria convencional

9Marcas: Qual é a sabedoria convencional para se obter um casamento saudável e feliz entre os cristãos evangélicos? Você difere da sabedoria convencional? De que maneira?

Winston Smith: Creio que a palavra da moda — não somente para os crentes, mas para todos os casamentos — parece ser compatibilidade. A ideia é a de que você precisa achar sua “alma gêmea” ou a pessoa mais compatível com você.

Há algo ardiloso na ideia de compatibilidade. Existe uma sabedoria elementar a respeito de compatibilidade que achamos em Provérbios. O casamento se torna mais difícil quando você se casa com uma pessoa da qual não gosta. “O gotejar contínuo no dia de grande chuva e a mulher rixosa são semelhantes.” Você não deve se casar com uma pessoa da qual não gosta ou com a qual não se relaciona bem. Isso talvez pareça lógico demais, porém as pessoas o fazem. As Escrituras concordam com este conceito: “Sim, a compatibilidade é realmente importante”.

Entramos numa situação desastrosa quando não vamos além do entendimento superficial de compatibilidade, achando alguém que torna a nossa vida mais fácil e nos faz sentir bons. Caímos no “relacionamento de consumismo”, no qual vamos ao mundo e procuramos um companheiro como se estivéssemos em um supermercado. O fato é que tomamos mais decisões ruins do que decisões excelentes. Temos de ser bastante cuidadosos na maneira como falamos sobre a respeito de compatibilidade. É correto falar sobre isso e reconhecer o seu lugar, mas, quando a compatibilidade é o único fator que levamos em conta, ela apenas satisfaz o egoísmo e a pecaminosidade do coração humano.

As prioridades bíblicas e o aconselhamento pré-nupcial

9Marcas: Se a chave para um casamento saudável não é a compatibilidade, então, o que é? Ou fazendo a pergunta no contexto do mundo real: qual é a coisa mais importante a dizer para um casal de noivos durante o aconselhamento pré-nupcial? O que eles precisam saber antes de tudo?


Winston Smith: Quando encontro um casal que planeja se casar, esta é uma das coisas que mantenho em mente: estou diante de pessoas que são à prova de bala. Isso é o que eu penso. Em outras palavras, quando um casal me procura para obter aconselhamento pré-nupcial, eles já estão realmente comprometidos. Alguém gastou certa quantidade de dinheiro na compra de alianças de noivado. Às vezes, os convites de casamento já foram enviados, e esses noivos não querem mais ouvir a respeito de seus problemas. Eles procuram conselheiros a fim de obter o selo de aprovação, para que possam seguir em frente com confiança. Minha tarefa consiste em ajudá-los a entender que há razões importantes para perceberem seus problemas.

Penso que na maioria dos casos os jovens se casam porque sua experiência de namoro lhes ensinou que eles são realmente bons em ter alegria um com o outro. Eles têm divertido um ao outro. É ótimo ser casado com alguém que você desfruta e lhe traz alegria; mas o casamento não consiste apenas de divertimento. Isso pode até ser um dos frutos do casamento. Em última análise, o casamento é uma figura do relacionamento de Cristo com sua noiva, a Igreja, e de seu amor por ela. No casamento, temos a oportunidade e o dever de refletir esse relacionamento e ser um retrato vivo e permanente desse tipo de amor.

Você sabe? Esse tipo de amor não se expressa apenas nos tempos bons e felizes. Às vezes, ele é mais visível quando as coisas vão mau. Conhecemos o amor de Cristo porque Ele nos achou em nossa desordem, feiúra, abatimento e rebelião. Esse tipo de casamento exige que um casal ajude um ao outro nas situações confusas e inquietantes. No aconselhamento pré-nupcial, desejo preparar as pessoas para esta parte mais crítica de refletir a Cristo. Preciso que estejam dispostos a contemplar as situações complexas, antes de se casarem, para que saibam se estão tomando uma decisão sábia.

9Marcas: Há outra coisa essencial ao aconselhamento pré-nupcial?

Winston Smith: Creio que a palavra-chave para o aconselhamento pré-nupcial é sabedoria. A decisão de casar-se com alguém não é uma decisão de manter um clímax emocional. Casar-se é tomar uma resolução sábia. A sabedoria envolvida na decisão de casar fundamenta-se em resolver casar-se com alguém que você amará em suas virtudes e se mostrará preparado a amar e ministrar em suas imperfeições. Em contrapartida, uma decisão sábia implica escolher alguém que amará você não somente nos momentos alegres e em suas virtudes, mas também o assistirá e o amará em suas imperfeições. Isso é uma decisão de sabedoria.

O que almejo fazer no aconselhamento pré-nupcial não é dizer aos noivos que eles devem ou não casar com a outra pessoa. Eles são livres para casar com quem desejarem, contanto que seja cristão. Mas eu lhes pergunto:

O que significa para vocês uma decisão sábia?

Vocês estão aprendendo a respeito do outro, suas tentações e maneira de viver. Estão conhecendo um ao outro, sua maneira de viver, suas tentações, seus pecados. O que significaria para vocês tentar ministrar um ao outro nessa condição?

Vocês têm virtudes e fraquezas. Elas se manifestarão no casamento. Agora, decidam. Esse é o ministério que desejam abraçar para o resto da vida? Essa decisão pertence a vocês, e não a mim.

Em ocasiões raras, tenho me sentido obrigado a dizer: se você casarem um com o outro, isso será um desastre. Mais freqüentemente eu direi: esta é a minha opinião realista a respeito do que acontecerá, e vocês tem de decidir o que farão.

A mudança cultural e a pornografia

9Marcas: Como você acha que a cultura mudou nos últimos 15 ou 20 anos? O que você acredita que os casamentos estão enfrentando agora e não enfrentavam 20 anos atrás?

Winston Smith: Há provavelmente muitas pressões culturais que tornam o casamento diferente do que ele era há 15 ou 20 anos. Ressaltarei apenas uma porque é uma das mais insidiosas. Tenho visto, vez após vez, como a pornografia é poderosa e destrutiva no casamento. É claro que a pornografia tem mais do que 20 anos. Contudo, o que mudou nos últimos 20 anos foi a tecnologia. No passado, existia esse obstáculo vergonhoso que você devia estar disposto a superar. Para dar-se à pornografia, você tinha de ir a uma parte diferente da cidade. Tinha de sair do seu carro, entrar em uma loja e dispor-se a ser visto. Seu nome e seu rosto seriam associados com o material que você carregava. Agora, porém, o anonimato parece quase garantido. A pornografia está não somente disponível a você, mas também invadindo a sua vida. Ele promove-se a si mesma. Surgirá repentinamente nos e-mails. Ela se mostrará na lista de filmes expostos nos hotéis. Talvez, quanto mais luxuoso for o hotel, tanto mais fácil será ver a pornografia e tanto mais ousadamente ela será exibida.

A pornografia está na ofensiva contra você. Ela o persegue. Portanto, você precisa ter razões autênticas para rejeitá-la, não somente porque será apanhado por ela. Essa não é uma boa razão, porque você terá oportunidades secretas de satisfazê-la. A condição da pornografia mudou, e a mensagem se amplificou. Qualquer um que tem visto pornografia talvez saiba o que estou falando. Em última análise, a pornografia consiste em relacionamentos anônimos e sem significado nos quais o foco é a satisfação pessoal.

O sexo é maravilhoso, mas a intenção de Deus para o sexo é que este comunique significado e propósito. O sexo foi idealizado para comunicar o amor sacrificial, pactual e comprometido de Deus, bem como seu cuidado e ternura. O sexo não foi idealizado para expressar uma liberdade de fazer o que você deseja, focalizado em si mesmo, e de se engajar em relacionamentos anônimos e sem significado. Tome as mensagens anti-relacionais da pornografia e junte-as a um enlevo psicológico, e assim você tem em suas mãos algo realmente sórdido. A pornografia não somente escraviza o tempo e a vida da pessoa. Começa a invadir o resto dos relacionamentos. Essas mesmas mensagens de conveniência, prazer e focalização no ego permeiam toda a vida da pessoa. Elas não somente permanecem no computador.

9Marcas: Você tem alguma sabedoria que deseja compartilhar com os pastores e igrejas para tomarem a ofensiva — maneiras pelas quais eles podem ser ativos em lutar contra a pornografia?

Winston Smith: penso que uma maneiras pelas quais as igrejas devem lutar contra essa ameaça, em termos simples, é conversar a respeito dela. E conversar não somente como algo que está fora da igreja, mas também como algo que nos persegue como indivíduos e famílias na igreja. Crie situações em que as pessoas que lutam contra a pornografia possam falar sobre ela, sem sentirem-se envergonhadas ou ameaçadas como cidadãos de segunda classe. Crie um diálogo aberto no qual esse problema será tratado com o mesmo cuidado, interesse e compaixão manifestados para com outros pecados e lutas.

Esse é um passo simples mas ousado. Você precisa dizer: “Conversemos sobre a pornografia como uma problema de nossa igreja, porque ela é realmente um problema nosso”. É claro que essa conversa deve acontecer como parte daquela cultura de disciplina e responsabilidade mútua que os pastores devem cultivar em suas igrejas.

Em seguida, seja prático em oferecer às pessoas instrumentos com os quais possam fazer algo a respeito da pornografia.

● Se você tem um conexão de internet em sua casa, pense nessa conexão como uma entrada para uma loja de materiais pornográficos. Em sua casa há uma passagem que leva a um mercado de pornografia, se você possui uma conexão de internet, TV a cabo ou satélite. Portanto, considere-a uma porta que precisa ser vigiada e trancada. Entreter-se com o computador é algo bom, mas você precisa saber o que está fazendo e por que o está fazendo. Você não está apenas lambiscando em seu computador.

● Limite o acesso privativo ao computador. Se você tem um computador de mesa, coloque em um lugar comum em que tela estará de frente ao meio da sala.

● Há muitos softwares são eficazes, mas nenhum deles é infalível. Há opções nos softwares que são eficazes em erguer barreiras (criando uma cerca protetora). Se você transpô-las, isso acontecerá porque você quis, e não porque foi enganado.

Há muitas coisas básicas que podemos fazer para nos proteger, mas parece que vivemos em nossas igrejas como ingênuos. As pessoas estão imaginando: “Ninguém está falando sobre a pornografia, ela não deve ser um problema”. Tenho visto inúmeros exemplos de pastores e administradores de igrejas que foram enganados por esse pensamento. Já aconselhei pessoas que trabalham em equipes de limpeza e, à noite, vão ao computador e veem pornografia nos prédios que estão limpando. Espero que essas sugestões ajudem aqueles que lutam contra a pornografia prevalecente.

Edificando casamentos saudáveis

9Marcas: Como podemos produzir uma cultura de casamentos saudáveis na igreja? Quais são os passos práticos que os pastores podem seguir para edificarem casamentos saudáveis?
Winston Smith: Acho que, ao pensarmos em como fazer algo na igreja, devemos começar com esta pergunta: de que maneira posso liderar por meio do exemplo? Não se precipite a um programa, nem a uma estrutura. Considere isto:

• Como eu vivencio o meu casamento diante dos membros da igreja?
• Como isso se manifesta no púlpito?
• Do púlpito, eu falo sobre o casamento como um ministério?
• Nas pregações, ajudo as pessoas a entenderem o que significam a graça e o amor nos detalhes da vida cotidiana?

Todos gostamos de pregações que contêm histórias e anedotas engraçadas. O que realmente necessitamos são aplicações práticas e apropriadas — aplicações concernentes a assuntos como estes: a maneira de conversarmos um com o outro, o modo como enfrentamos um ao outro, a maneira como perdoamos e como lidamos com as questões que vivenciamos no dia-a-dia.
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Traduzido por: Pr. Wellington Ferreira
Copyright:
© 9Marks
© Editora FIEL 2009.
Traduzido do original em inglês: Premarital Counseling, Pornography, and Marriage – Entrevista com Winston Smith, realizada pelo ministério 9 Marcas com.
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

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A Utilidade das Escrituras no Aconselhamento



Wayne Mack

O que a Bíblia nos ensina? A Bíblia nos ensina a respeito da vida; ela nos ensina a própria verdade (Jo 17.17). A Bíblia nos ensina a verdade que precisamos saber para começarmos a viver a vida que honra e glorifica a Deus. Ela nos ensina o que é certo e o que é errado; o que é proveitoso, o que é sábio e o que é estultice. A Bíblia nos ensina como podemos escapar da corrupção que existe no mundo e em nosso coração. Ela nos ensina como podemos ser eficientes no ministério cristão; como ser bons esposos e esposas, pais e filhos; como ser bons cidadãos, como amar a Deus e ao nosso próximo (2 Pe 1.3,4). A Bíblia nos ensina como resolver nossos problemas à maneira de Deus (1 Co 10.13; Rm 8.32-39). Ela nos ensina como ter alegria, paz, gentileza, paciência, bondade, amabilidade, autocontrole e dignidade (2 Pe 1.5-7; Gl 5. 22,23). A Bíblia nos ensina a respeito da Divindade, do céu, do inferno, da vida presente e da vida por vir. Na verdade, a Palavra de Deus nos ensina (pelo menos na forma de princípios) tudo o que necessitamos saber para que tenhamos uma vida eficaz e bem-sucedida, conforme Deus mesmo define esse tipo de vida (2 Pe 1.8,9; 1 Tm 4.7; Jo 10.10).

As Escrituras são o nosso padrão infalível e inerrante em assuntos de fé e de prática. A Palavra de Deus é “perfeita e restaura a alma”; é “fiel e dá sabedoria aos símplices”; é correta e alegra o coração; é pura e “ilumina os olhos”. Seus ensinos são “mais desejáveis do que o ouro, mais do que muito ouro depurado”. Por meio deles, o povo de Deus é advertido, protegido do erro e de angústias, e, “em os guardar, há grande recompensa” (Sl 19.7-11).

O Salmo 119, o capítulo mais longo da Bíblia, refere-se totalmente à Palavra de Deus. Neste salmo, em quase todos os seus 176 versículos, o autor exalta a utilidade dos ensinos encontrados na Palavra de Deus. Conhecer e praticar os ensinos da Palavra de Deus produz uma vida abençoada, um coração agradecido, livramento do opróbrio, pureza de coração, libertação do pecado, alegria e gozo incomparáveis, livramento da reprovação e do desprezo, vigor e fortalecimento interior, ousadia e coragem, conforto e refrigério, liberdade e segurança e muitos outros benefícios. Não devemos nos

admirar destas palavras do salmista: “Terei prazer nos teus mandamentos, os quais eu amo”; “Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra”; “Os teus testemunhos são o meu prazer, são os meus conselheiros”; “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos”; “A minha alma tem observado os teus testemunhos; eu os amo ardentemente”; “Tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos” (Sl 119.47, 16, 24, 105, 167, 128).

Que bênção é possuirmos o ensino infalível do Deus infinito e inerrante, desfrutando deste ensino como um guia para nossa vida e um auxílio para entendermos nossos problemas e as soluções para eles! Este ensino se tornou especialmente real para mim há algum tempo, quando estava em meus estudos universitários na área de psicologia. Enquanto estudava na universidade, ouvi muito a respeito de teorias e opiniões de muitas pessoas supostamente eruditas no que diz respeito ao homem e seus problemas. Depois de apresentar as várias e habitualmente conflitantes teorias a respeito do homem e seus problemas (teorias ensinadas por líderes respeitados no campo da psicologia), um dos professores disse: “Não podemos ter certeza se qualquer destas teorias é completamente verdadeira. Mas, se vocês têm de aconselhar outras pessoas, estudem estas teorias e decidam qual delas lhes parece mais sensata. Vocês têm de fazer isso porque, quando as pessoas vierem para aconselhamento, elas desejarão ouvir algo que lhes esclareça o porquê dos problemas pelos quais elas estão passando”. Apreciei a sinceridade deste homem, mas fiquei triste por reconhecer que pessoas estariam procurando ajudar outras a entenderem seus problemas e a encontrarem soluções para eles, sem terem qualquer razão consistente que lhes daria a certeza de que as coisas em que estavam crendo tinham algum valor genuíno. Ao mesmo tempo, eu me regozijei em saber que a Palavra de Deus é proveitosa para nos ensinar, de maneira infalível, “todas as coisas que conduzem à vida e à piedade” (2 Pe 1.3).

Em outro curso de psicologia, a questão dos valores estava sendo discutida. Havíamos aprendido que a única maneira de alguém determinar o certo e o errado é agir de conformidade com esta máxima: “O certo é tudo aquilo que é significativo e satisfatório para você e não machuca as outras pessoas”. Em meu papel de respostas daquela aula, afirmei que isso nos deixa em um dilema terrível, relativista e incerto no que se refere a determinar o certo e o errado. De maneira tão respeitosa e gentil quanto possível, escrevi: “Esta maneira de determinar o certo e o errado é bastante relativista e subjetiva, pois aquilo que eu penso ser significativo e satisfatório pode ser muito diferente daquilo que outra pessoa pensa ser significativo e satisfatório. Além disso, como eu posso saber que algo é realmente significativo e satisfatório? Visto que eu sou um ser humano limitado, aquilo que eu penso ser significativo e satisfatório pode não ser, de maneira alguma, uma avaliação exata”.



No mesmo papel de respostas, escrevi as seguintes perguntas a respeito da declaração de que o certo é aquilo que não machuca as outras pessoas: “Que padrão devo utilizar para determinar se algo realmente não machucará outra pessoa? Como posso ter certeza de que outra pessoa não será ferida por aquilo que eu faço ou não faço? Sou finito e falível, e meu entendimento daquilo que machuca os outros pode ser total ou, pelo menos, parcialmente errado”. Em respostas às minhas perguntas, o professor escreveu: “Você levantou algumas questões sérias e interessantes, para as quais não temos respostas; mas continuaremos a lutar com tais questões”. Em outras palavras, se esquadrinharmos este padrão do certo e do errado, descobriremos que não temos realmente nenhum padrão.
Quão infeliz é a situação daqueles que, trabalhando em ajudar outras, não têm uma base sólida que lhes capacite a entender as pessoas e seus problemas e a encontrar soluções para eles. Quão agradecidos e humildes nos deveríamos mostrar pelo fato de que temos a Palavra de Deus, a qual é proveitosa para nos ensinar. Meus irmãos, posso dizer-lhes, não com orgulho, e sim com ousadia, que realmente temos as respostas! Temos a verdade na Palavra de Deus. Neste livro, a Bíblia, o Deus todo-poderoso nos revela o que é certo e o que é errado. Quando fundamentamos nosso entendimento neste livro, não precisamos perguntar: “O que eu estou fazendo é certo ou errado?” Se os ensinos deste livro são inspirados por Deus, podemos ter paz, confiança e segurança, se aquilo em que cremos, o que dizemos, o que fazemos está de acordo com o que a Bíblia diz. Se o Deus todo-poderoso, todo-sábio, onisciente e infalível ensina algo, o que nos importam as coisas ensinadas pelo resto do mundo? É de acordo com a lei e com o testemunho da Palavra de Deus que falamos a verdade, e qualquer coisa que contradiz a Palavra de Deus é expressamente falsa (Is 8.20).
Se uma pessoa não tem a certeza resultante de reconhecer que aquilo em que ela crê é o ensino de Deus, tal pessoa passa a vida toda como um navio sem âncora. Ela é constantemente jogada de um lado para o outro, sem qualquer fundamento verdadeiro para ter certeza a respeito de qualquer coisa. Quando tal pessoa medita realisticamente a respeito de sua situação, o resultado é incerteza, temor, ansiedade, depressão, confusão, perplexidade e várias outras experiências desagradáveis. Ao contrário disso, quando uma pessoa reconhece que os ensinos da Bíblia foram inspirados por Deus, e tal pessoa entende, crê e aplica esses ensinos à sua vida, ela possui os fundamentos sólidos para desfrutar de paz, confiança, certeza, contentamento, ousadia, coragem, gozo, gentileza, bondade, amabilidade, autocontrole e dignidade.


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O Pecado e a Glória de Cristo


D. M. Lloyd-Jones

Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. I Timóteo 1.15

Ninguém jamais terá uma concepção verdadeira do ensino bíblico sobre a redenção, se não possuir clareza de entendimento sobre a doutrina bíblica do pecado. E essa é a razão por que muitas pessoas, em nossos dias, são inseguras e vagas em suas idéias a respeito da redenção. A idéia mais comum é a de que o Senhor Jesus é um tipo de amigo ao qual todos podem recorrer em dificuldades, como se isso fosse tudo a respeito dEle. O Senhor Jesus é esse tipo de amigo - e temos de agradecer a Deus! Mas isso não é redenção em todo o seu escopo, em sua inteireza ou em sua essência. Você não pode começar a avaliar a redenção, até que compreenda o que a Bíblia nos ensina a respeito da condição do homem no pecado e de todos os efeitos do pecado no homem. Permita-me dizê-lo com outras palavras: você não pode entender a doutrina da encarnação de Cristo, a menos que entenda a doutrina do pecado.

A Bíblia nos ensina que o homem estava em uma condição tão deplorável, que exigia a vinda, dos céus à terra, da Segunda Pessoa da bendita e santíssima Trindade. Ele teve de humilhar-se e assumir a natureza humana, nascendo como um bebê. Isso era absolutamente essencial, para que o homem fosse redimido. Por quê? Por causa do pecado e da sua natureza. Por conseguinte, você não pode entender a encarnação de Jesus, a menos que tenha um entendimento claro sobre o pecado. De maneira semelhante, considere a cruz no monte Calvário. O que ela significa? O que a cruz nos diz? O que aconteceu lá? Digo novamente que você não pode entender a morte de nosso Senhor e o que Ele fez na cruz, se não possui um entendimento claro sobre a doutrina do pecado. A completa imprecisão das idéias de muitas pessoas a respeito da morte de nosso Salvador se deve completamente a este fato: e elas não gostam da doutrina da substituição, não gostam da doutrina do sofrimento penal. Isso acontece porque nunca compreenderam o problema e não vêem o homem como um criatura caída no pecado. Estas são as doutrinas fundamentais da fé cristã; não se pode entender a redenção, exceto à luz da terrível condição do homem no pecado.

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