terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Conceito do Pré-conceito

Graça e Paz, Amados!

Quem já não sofreu pré-conceito, de alguma forma na vida? Quem pode se jactar de vir a esse mundo e sair ileso dos estigmas que carregam por ter nascido em um lugar não muito aceito por pessoas que acham que o lugar é quem determina o valor das pessoas. O pré-conceito é algo tão universal que nem mesmo o filho de Deus escapou de ser estigmatizado por ele.

O Evangelho segundo João afirma que um homem chamado Filipe, chamou a Natanael, euforicamente dizendo: “Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas. Jesus o Nazareno, filho de José”. [1]. Natanael não questionou o fato de Filipe o chamar Jesus de Messias pré-anunciado por Moisés, o que seria natural para um homem que tinha uma fé judaica. Mas ele duvidou sim ao ouvir a palavra “Nazareno”, e retrucou: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?[2]

O pré-conceito, é injusto, por inverter a ordem de valores, coloca o “lugar” , como superior a “pessoa”, generaliza o que há de “mal”, excluindo o que a pessoa tem de “bom”. As pessoas passam a ser “subproduto” do lugar, alguém que está fatalmente destinado a uma vida inferior, devido a ‘infelicidade “de nascer num “lugar”, ou ser de uma “raça diferente”, que segundo os pré-conceituosos, “de antemão”, já determinaram a in-felicidade do in-feliz, elaborando um padrão modelado pelo seu paradigma do que é bom , tem valor ou não!

Um Judeu causou muita turbulência no meio do seu povo por “relativizar”, os conceitos, cheios de pré-conceitos da sua época! Mateus o biografo que escreveu sobre Jesus, quando cita a gênese dos seus antepassados, mostra que Jesus também foi vitima do pré-conceito, pois antes de nascer, o local que o recebeu foi um “estábulo”, junto aos animais, o Filho de Deus experimentou desde cedo o amargo sabor, de nascer numa família pobre, não havia lugar para ele na hospedaria[3]. No entanto Ele foi o pré-cursor em quebra de pré-conceitos ao incluir na sua genealogia nome de mulheres, que em sua época contaminavam o “sangue puro”, da “pura-raça”.

Imagine “Tamar” [4], uma mulher que ao ver que o seu marido não queria lhe conceder filhos, jogando o sêmen na terra [5], não exitou em planejar um método para ter filhos, de forma que enganar o próprio sogro e ter filho dele, na sociedade da época, era menos vergonhoso do que ser uma eterna mulher sem descendência. [6]. Mas quem iria permitir a inclusão do nome duma mulher como essa na sua arvore gene-“alógica”? Sim gene ”sem lógica”, pois que lógica é essa! Somente alguém radical contra o pré-conceito!

Raabe, uma prostituta [7], foi genealógica, que na lógica não havia “gen” que a fizesse participante da ascendência do filho de Deus. Filho Santo, de um Deus Santo, que aceitou os “profanos” deu-lhes a honra, entre tantas des- “honras”, de fazer parte da sua linhagem. O Filho de Deus não teve pré-conceito de aceitar uma “prostituta”, para fazer parte dos seus predecessores, visto que ELE, mesmo vindo após eles, sempre foi “antes” deles, pois como criador Ele criou “pessoas”, e não “status”! Que é classificação dada pelas pessoas sobre valores, que podem ser anti-valores na perspectiva de quem valoriza o “ser”, acima do “ter”, independente do “poder” ou não poder!

O pré-conceito vai muito além das pessoas, também atinge a “geografia”, que diga “Samaria”, território considerado “impuro”, para aqueles que se julgavam “puros”.Devido ao estigma de um lugar havia quem desrespeitava a geometria, de que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta! No entanto o que faria se estivesse na Judéia e quisesse ir a Galiléia? a linha reta exigia passar por samaria! O que você faria? Respeitaria a geometria, ou daria a volta e evitaria? [8] Ainda se no caminho corresse o risco de encontrar com uma “prostituta”! Criaria outra teoria, para escapar de Samaria?

Passar pela cidade de Sicar [9] já era “ficar”, em posição de oposição a quem define a santidade como algo pertencente ao lugar! Ainda mais aceitar, ser servido por uma “mulher”, que só servia de inspiração, para a oração de gratidão: “Agradeço o Deus por não nascer mulher”.Como se houvesse maldição somente sobre a única que do Éden saiu com promessa de “redenção” [10].

Jesus não a considerou como a “Mulher Samaritana”, mas como “A mulher que nasceu em Samaria”, acima de tudo ela era “mulher”, tanto quanto outra de qualquer lugar.Tinha um relacionamento conjugal, onde o jugo, a sub-jugava [10], tornava-a infeliz, mas sua alma suspirava com avidez pelo desejo de ser considerada como alguém que está acima do “ter” ou não “ter”, para “ser”, o que “era”, sem ser julgada.

O pré-conceito não aceita as diferenças que fazem a “diferença”, pois unidade na diversidade acontece com a grandeza dos humildes, mas unidade na uniformidade é imposta pela intolerância dos arrogantes! O pré-conceito é filho bastardo da arrogância, gerado no ventre da ignorância, inimigo da tolerância; essa é filha da sabedoria, que sempre quer ensinar que as diferenças se completam. [11]

_____________________________________________________________ Notas
[1] João 1: 45 [2] João 1:46
[3] Lucas 2:7 [4] Mateus 1:3
[5] Gênesis 38:9 [6] Gênesis 38
[7] Mateus 1:5
[8] João 4: 4, O encontro de Jesus com a mulher Samaritana se deu devido ele ignorar as regras de que um judeu jamais poderia entrar no território de Samaria, pois isso o deixava impuro para os rituais do templo. Por mais de uma vez Jesus quebrou essa regra quando também além de entrar pelo meio de Samaria curou leprosos. Lucas 17: 11-19
[9] João 4:5 [10] 1 Timóteo 2:15
[11] 1Corintios 12:6-7

Nenhum comentário:

Postar um comentário